Lembranças do caminho de volta
Eu escrevi esse post há alguns dias, entretanto, colhendo os benefícios da tecnologia Google, quando ele for publicado eu estarei longe deste computador, sentindo saudade das minhas casas (essa da vila e a do coração do meu querido).
Sempre que viajo percebo o quanto gosto dos meus lugares: minha cidade, meu quarto, minha cozinha. Adoro minhas gavetas, tudo ali, guardadinho para quando eu precisar. Já repararam que em nenhuma viagem nossas coisas ficam acomodadas como em casa?
Lembro que quando vivi em Boston, depois da saudade das pessoas, o que mais eu sentia falta era do calor do Brasil (esse ar quentinho sempre, acho que isso é aconchego). O Brasil inteiro tinha virado meu lar enquanto eu estava fora.
Nem precisa ficar tanto tempo ausente, basta alguns dias para que reencontrar as pessoas na volta dê a sensação de encontrá-las, de novo, como se fosse a primeira vez. Tem emoção, vivacidade, coragem. Engraçado isso, mas a saudade tem esse dom mesmo: provoca rejuvenescimento nas relações, no cotidiano, até na saúde. A luz da vizinhança parece tão mais amorosa depois da minha ida...
Estará comigo nesses dias o Encontro Marcado, de Fernando Sabino. Nessas horas é que penso que tem uma turma nessa vida que é tudo igual no coração: sente as mesmas dores, sorri dos mesmos riachos, enxerga a curva pronta para acontecer a todo instante. E me impressiono como ainda nenhuma apostila conseguiu evitar tanta passagem. Acho que é porque cada um precisa fazer a sua viagem mesmo, sem ela ninguém vê paisagem alguma.
Por isso, eu vou, mas eu volto. Por isso, eu caminho para casa, usando as palavras de Sabino, ora pela escada, ora pela ponte, procurando sempre, sempre, sempre o divino encontro.
Viajar é uma delícia, mas ficar é melhor ainda.
"De tudo ficaram três coisas:
a certeza de que ele estava sempre começando,
a certeza de que era preciso continuar
e a certeza de que seria
interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho novo.
Fazer da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sono uma ponte,
da procura um encontro."
(Fernando Sabino, O Encontro Marcado)
Comentários
Quando estava estudando na Inglaterra, em 93, cheguei à conclusão de que existem dois tipos de saudades: aquela que vc sente de casa quando está viajando, e aquela que vc sente da viagem, quando já está de volta pro lar.
O primeiro tipo de saudade (de casa) vc vai matar, afinal seu mundo está ali lhe esperando... mas o segundo tipo, a saudade das sensações, das pessoas, das circunstâncias, essa nunca mais vai voltar...
Por isso da importância de vivenciar ao máximo (e com muita gratidão) as experiências do caminho "de ida"...
Bjo!