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Mostrando postagens de agosto, 2008

Sonhos (im)possíveis?

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Já reparou como nunca imaginamos que algo extraordinário acontecerá em nossas vidas, nem de ruim, nem de bom demais? Nunca nenhum acidente grave (por isso somos tão descuidados em alguns detalhes: filho pequeno no banco da frente do carro, cigarro, excesso de comida, falta de gentileza, e por aí vai), nem sorte grande na loteria. A tragédia só acontece com o vizinho. E é dele a grama mais verde também. É assim porque preferimos mais do mesmo a arriscar um vendaval que só os deuses sabem onde vai dar. Administrar o nosso feijão-com-arroz é mais seguro; as coisas já estão, male-male, no controle. Nos condicionamos a ficar cada vez melhores em evitar que a vida nos surpreenda: fazemos exatamente as mesmas coisas todos os dias, mantemos os mesmo hábitos, os mesmo gestos, a mesma postura, para garantir os mesmos resultados, mesmo que seja para lamentar depois (vai entender). Outro dia, eu me perguntei o por quê do povo sonhar tanto acordado como se o sonho fosse coisa do além. Se repararmo

Quando uma estrela apaga

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- Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim, Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas, tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...Ele riu outra vez. - Ah! meu pedacinho de gente, meu amor, como eu gosto de ouvir esse riso! - Pois é ele o meu presente... será como a água... - Que queres dizer? - As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém... - Que queres dizer? - Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!E ele riu mais uma vez.- E quando te houveres consolado (a g

Sutileza canina

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Esse é o Juca, meu cachorro. Juca ainda é filhote, mas, quando chegou, era bem menorzinho. Ele cresceu um bocado nesse pouco tempo de vida. Dizem que Juca não pensa. Eu duvido. Ele pode não raciocinar como nós, mas, que tem neurônio funcionando e associando coisas, ah, isso ele tem. Juca é doce, tranquilo, só late quando tem gente por perto que ele não conhece e que está tomando a minha atenção. Gente nova precisa chegar perto dele, se apresentar, fazer um cafuné. Aí, então, ele volta a sossegar. Esse pequeno ser foi um presente de gente querida, gente que respeito e gosto muito. Ele chegou num domingo pela manhã, logo depois de um telefonema ("vamos levá-lo sem compromisso") e ficou. Foi um presente mesmo, esse danado. Eu já tive cachorro, grandão, preto, um labrador puro (pode-se ler primário, também) e dominante que, bastava sair de casa para marcar território em tudo que era árvore e poste. Tão dominante que não houve um treinador que o ensinasse certas coisas. Era dito q

Dodói

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Outro dia, ouvi um comentário que achei engraçado. Uma pessoa dizia que a molecada entra cada vez mais cedo na adolescência, mas que demora muito pra sair dela. Dizia que tem gente com 40 anos que ainda é adolescente. Eu ri, mas, sabe o que? É verdade. Semana passada, passei por dois eventos, com conhecidos diferentes, que me fizeram constatar, infelizmente, que algumas pessoas não crescem. São ótimas, bacanas, simpáticas, até que alguma coisa as contraria. Aí, elas fazem bico, birra, se sentem ofendidas, magoadas. E olha que foram contrariadas porque a vida é assim mesmo, não foi alguém, que, por pura maldade, quis desiludi-las. É uma chatice isso porque, querendo ou não, a gente fica com aquela cara de pastel, se afasta um pouco, ainda fica abismada com certas tolices de quem deveria ter crescido. Agora, pergunto eu: se um homem ou uma mulher não consegue aceitar um contratempo, é justo que se queixem da vida? Não é a vida delas um reflexo da maneira como elas se comportam com os ou

O que me pinta de alegria

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... quando o sol acha que já é verão e aparece no final de semana inteiro; música boa para cozinhar; ver pai e filho saindo lindos de bermuda para passear; acordar sem despertador; espreguiçar por 10 minutos antes de levantar; dar de cara com meu jardim (de quintal) e constatar que ele é lindo porque eu cuido dele; bons encontros (de qualquer espécie: pessoal, profissional, casual, virtual, tudo mais); olhar o céu e admirar tanta perfeição; ter tempo para encher o pulmão e namorar a vida; emocionar-me com cheiro de comida no fogão; rir da propaganda de chinelos; óbvio inteligente; embobecer e não ter vergonha de achar graça nas bobagens; comer um pacote de Doritos; caipirinha do Veloso com bolinho de camarão; ouvir meus sobrinhos dizer que me amam; saber que sou amiga da minha mãe; saber que eu gosto de mim de verdade; admitir que não quero algumas coisas que não me interessam mesmo (perder tempo pra quê???); só estar com quem eu quero, seja onde for; não incluir nenhum comportamento p

Avestruz ou coruja?

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Pausa para o almoço, enquanto os pensamentos continuam. É estranho pensar que esse é o único movimento que não podemos interromper: a correnteza mental é inesgotável, e acho até óbvio, já que faz parte dessa leva de coisas não-físicas que a gente não sabe de onde vem. E que, com sorte, cuidado e muita torcida, permanecerá pelo resto da vida. Pois bem, desde ontem tenho pensado na realidade, em como não esquecê-la jamais. É muito fácil permitir que uma alegria nos eleve para além do nosso chão, e uma tristeza para aquém da verdade, pois é disso que precisamos muitas vezes: fugir. Mas, permanecer nesse estágio cegamente, considerando que aquilo transforma ou distorce os fatos, é por demais perigoso. O pouso pode virar uma queda, ou o retorno um caminho penoso demais. É claro que, como tudo nessa vida, viver no equilíbrio entre o real e a fantasia é puro exercício diário. Com tanta notícia ruim na mídia, tanta violência e catástrofes "naturais", nós acabamos por considerar a vid

O ronco da lua

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É bom tarde agora e eu cantava Vinícius enquanto desligava o computador e sonhava com meu ourives. Pretendia escrever o mundo, mas o sono chegou bravíssimo. Canta, Vinícius: Eu sei que vou te amar Por toda a minha vida eu vou te amar A cada despedida eu vou te amar Desesperadamente Eu sei que eu vou te amar E cada verso meu será pra te dizer Que eu sei que vou te amar Por toda a minha vida Com o coração confortado e feliz, garanto uma montanha de palavras para amanhã. Agora é hora de deitar nos braços de Morfeu. Plagiando minha amiga Gabi, aqui vai um momento cultural: Morfeu (palavra grega cujo significado é "aquele que forma, que molda") é o deus grego dos sonhos. Morfeu tem a habilidade de assumir qualquer forma humana e aparecer nos sonhos das pessoas como se fosse a pessoa amada por aquele determinado indivíduo. Seu pai é o deus Hipnos , do sono. Os filhos de Hipnos, os Oneiroi , são personificações de sonhos, sendo eles Icelus , Phobetor , e Phantasos . Morfeu foi me

De Vinícius a Cummings

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Depois dizem que mulher é vaidosa! Vaidosa nada, nós temos mesmo é um bom senso danado daquilo que é belo. Agora há pouco, eu revia algumas fotos e me deparei com uma que me deixou passada. Todo mundo sabe o que aconteceu com meus cabelos há um ano, não é? Pois bem, só vendo as fotos tiradas antes daquele acidente é que dá pra ter uma noção do estrago. E que estrago! Dá desgosto até. Gastrite também. Isso sem falar na vontade de gritar. Olha, se não fosse a ajuda de tantos amigos, eu ainda estaria meio careca, infeliz mesmo! Obrigada a todos, by the way. Mas, enfim, mulher (normal) quando cisma com alguma coisa está certa. Quando reclama da barriga, ela sabe do que está falando, gente. Só ela enxerga, mas ela sabe! Pode ser um botãozinho perto do umbigo, mas se incomoda... ela reclama e com toda razão. Não adianta tentar compará-la com alguém mais gordo só para provar que ela é lunática. A vida é dela, o corpo é aquele e quem lida com ele é ela. Portanto, melhor se por no lugar, lembra

Um brinde ao final de semana

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“Amada, o vinho é de boa vindima: bebe-o sem demora, goza da hora propícia. Mais tarde, dizes tu… Mas quem pode contar com outra Primavera?” (Hafez) Pois é, ninguém pode. O jeito, então, é beber o tal vinho enquanto há. E, claro... chamar um táxi depois. Especialmente hoje, estou bem ao estilo dos habitantes de Lacônia, portanto, um brinde ao final de semana e boas taças para todos nós... mas, antes, algumas perguntas de Neruda: Não seria a vida um peixe preparado para ser pássaro? Pois não foi onde me perderam que eu me dei, enfim, por achado? Que há de pesar mais na cintura:padecimentos ou memórias? E uma pergunta dos Titãs: você tem fome de quê? Então me diga: o seu vinho de hoje será acompanhado daquilo que te abre o apetite?

The sun's in my heart

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Cai o mundo em São Paulo agora. Chove de fazer barulho. Uma pessoa amiga, então, me escreveu dizendo que a chuva a deixa "pra baixo", pensativa. Acho intrigante considerar a introspecção uma tristeza. Eu própria me considerei, a vida toda, uma pessoa de natureza triste simplesmente porque conversava mais com os meus botões do que com qualquer pessoa. Havia sempre tanto a observar (porque eu queria entender) que nunca perdi muito tempo com as panelinhas ou algazarras típicas de adolescente. Eu lia demoradamente numa sala de biblioteca, vivia entre as músicas que ninguém gostava, assistia a filmes cheios de poesia, caminhava sozinha. Foi um alívio quando, há bem pouco tempo, entendi que havia acumulado um universo interior muito querido e não uma montanha de tristezas. É íngreme o caminho para dentro da alma, mas, é o que se transforma em amor com o passar do tempo. Amor do bom, com força e garantia. "O que é belo, o que é justo, santo e grande Amo em ti. — Por tudo quanto

O valor inestimável da continuidade

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Abrir os olhos requer coragem, despreendimento, amor acima de tudo. Outro dia, comentei com amigos que eu precisava enxergar como buda. De alguma forma, de uma maneira invísivel, uma mudança acontecia e eu queria olhos (aqueles da alma) para percebê-la. Foi um desejo tão profundo aquele meu, quase desesperado, que, horas depois, meus olhos enxergaram desarmadamente. É o desejo, profundo e certo da vida, que transforma. Nada mais. Não existe dor, nem castigo que resolva. É preciso desejar verdadeiramente. Só que a coisa não pára por aí. A gente só sabe que amadurece quando entende que uma conquista não significa descanso. Significa mais. Mais atenção, mais cuidado, mais esforço para não cair nas armadilhas anteriores. Não que isso seja dificultoso ou sofrido. Ainda porque, mesmo sem esse "trabalho", vida alguma seria fácil. Mas, falando nas armadilhas, acredito que depois de muito treino, elas enfraqueçam um bocado. Acho que a palavra certa nem é essa - armadilha. Parece mais

O nascimento da gema

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Estou aqui ouvindo o Café Filosófico, programa bacaninha e inteligente da TV Cultura. Só ouvindo porque jamais consigo fazer uma única coisa por vez, principalmente assistir TV. Me ocupo com outro vício enquanto isso (internet ou comida), páro de vez em quando para prestar atenção nisso ou naquilo, mas, ainda prefiro o silêncio mesmo. Bom, mas voltando ao Café, o tema de hoje é o super-ego na infância, coisa básica! Dois psicanalistas, entre eles o Ivan Capelatto (de quem sou FÃ), discutem a ausência dos pais na educação dos filhos, a transferência dessa tarefa para a escola, o ônus disso tudo, sexualidade precoce, blá blá blá. E, aí, eu me lembro da minha infância, bem agora que passei férias com irmão e sobrinhos. A volta de lembranças e sensação de ter perdido tanta oportunidade de viver mesmo com o outro, a família, e tudo mais, me cobram uma maturidade no então impossível de ter existido. Fico achando que podia ter tido mais tempo (!), e só nesses três parágrafos já citei os tais