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Mostrando postagens de setembro, 2008

Chapeuzinho não vive sem Lobo-mau: mitos da insuficiência

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"Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos" , quem escreveu isso foi Anaïs Nin, lá pelos idos dos anos 50 do século passado. Anaïs Nin é famosa por sua literatura erótica, é autora de Delta de Vênus, Pequenos Pássaros e Uma Espiã na Casa do Amor. O que mais me impressiona em seus textos é a absurda intensidade, uma entrega que sempre achei que eu própria não tivesse e, acima de tudo, o despudor em assumir sua imoralidade. Essa, entretanto, não é a melhor faceta de Anaïs Nin. O que ela tem de melhor, eu acho, é a capacidade de transformar os enigmas abissais entre homem e mulher naquilo que é mais simples e primário: foram feitos um para o outro, são carnais, são amantes. Desde que me entendo por gente leio e ouço por aí rótulos femininos e masculinos, interpretações racionais e científicas a respeito das diferenças entre macho e fêmea. Um é assim, o outro é assado. Um veio de Marte, o outro de Vênus. Um tem hormônios demais; o outro, TPM de dar dó. Tanto tempo gas

Muito prazer em conhecer

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É interessante essa história de blog. Por aqui, a gente conhece melhor o sentimento de quem escreve, mesmo que a intenção seja só falar sobre filmes ou política. Foi assim, que comecei a me sensibilizar e reconhecer alguns corações, e uma pessoa, em particular, até virou minha amiga, e me incentivou a escrever também. Essa semana recebi o e-mail de um ex-colega de trabalho, pessoa de quem sempre gostei mas que tive poucas oportunidades de conversar sobre tudo o que escrevo. Aliás, se existe uma coisa que a gente não fala normalmente é sobre assunto que vira blog, quem é que tem tempo? Pois bem, ele me dizia que tinha lido um post e que desconhecia "esse meu lado". Eu achei graça, porque as pessoas se conhecem muito pouco mesmo. Só parando de verdade, com calma e vagar, e com alguma regularidade, para começar a entender a cabecinha de quem encontramos no trabalho, na escola, na vida, enfim. Outro dia, também, uma amiga, lendo meu perfil, "descobriu" que sou budista e

Come on, baby, just pump it

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Quem viu John Travolta e Uma Thurman em Pulp Fiction sabe que Black Eyed Peas pegou uma carona deliciosa nas batidas de Misirlou , no filme interpretada por Dick Dale & His Del-Tones (aliás, a trilha sonora inteira do filme é contagiante, dá até pra ver Vicent Vega e Mia Wallace dançando juntos quando ouço You Never Can Tell). Pulp Fiction é de 1994, então, dá pra imaginar a quanto tempo eu ouço Misirlou e, depois, Pump it: ADORO. É impossível manter os músculos quietos, o coração ganha energia, dá vontade de sair dançando, se sentindo a própria wonder woman do rádio. Uma delícia, quase um Prozac, só que o único efeito colateral é o aumento no batimento cardíaco. Como diz a turma tchope-tchura, a música é, definitivamente, a melhor viagem. E, dependendo do lugar para onde se quer ir, um cliquezinho é o passaporte garantido. Eu, particularmente, evito algumas, às vezes; procuro outras, outras vezes, e canto o dia inteiro quando preciso mudar o meu humor. Já perdi a conta de quanta

"Agente, prefiro mais, pelo omenos" e outras dores

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Gente, que me perdoem os mais desatentos, mas se tem uma coisa que me dá alergia e está ficando cada vez mais difícil suportar são os "enganos" com a nossa língua portuguesa. É tanto desmazelo que fico preocupada mesmo com o futuro dos nossos livros. Uma pessoa simples, que não tenha estudado, eu entendo, juro: acho honesto que não saiba falar ou escrever direito. Mas, vamos ser bem francos, gente "estudada", até "de nível superior", usando o nosso bom e lindo português sem a menor noção, é de matar! É um tal de "que nem" (é o menos agressivo), "agente" (assim mesmo: tudo junto), "enstruída", "pelo omenos" (ai, ai), "ecessão" (pela mãe do guarda!), "fazem cinco anos", "pra mim fazer"... olha, é tanta coisa que dá dor de cabeça! Onde foi que esse povo viu isso escrito? Não viu, né? Aí é que está o problema: falta leitura. Parece óbvio dizer isso, mas, sim, só lendo é que se aprende a escr

Saúde

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Eu conversava ontem sobre saúde e de como eu me preocupo com a minha: prefiro o caqui ao salgadinho, faço atividade física com frequência, procuro manter o coração limpo, além de, claro, claríssimo como um céu de verão sem nuvem alguma, não fumar, nunca fumei, não tenho a menor vontade de. Todos esses cuidados são racionais, programados, incluídos na minha rotina com o propósito definido de viver em pleno funcionamento, mas também têm muito de preferência pessoal. Eu gosto do sabor mais natural e ponto. E isso não é de hoje, não. Há séculos bebo suco ao invés de refrigerante, 2 litros de água todos os dias, carne só em época de muita carência proteica, natação, corrida, bike, musculação. Minha preocupação em não adoecer é "meio doentia". Uma gripe, um resfriado, ainda vá lá. Mas, adoecer pra valer me dá pânico. Ficar de cama pra sempre, pra mim, é a morte. Sério. A observação que ouvi foi "parece até que você não tem família ou amigos para cuidar de você". Pois é, t

Só a noite é que amanhece

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Só a noite é que amanhece (Alphonsus de Guimaraens Filho) À VONTADE Não seja por isto, noite. Melhor é que desças Com toda a tua treva E entre nós — embora ressabiados e feridos — até que poderás ficar à vontade. Pois de qualquer modo há em ti um frêmito vôo informulado, grande ave de asas cegas… Somos teus, como sabes, todos te pertencemos, constrangidos embora. Mas não seja por isto. A casa é tua — como nestes domínios é hábito dizer aos amigos — e poderás ficar à vontade.

Mesmo que o tempo e a distância digam não

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Eu frequentei, durante bons anos, um grupo de estudo com meia dúzia de pessoas. O trabalho era bem intimista, uma vez por semana (toda semana) e acabamos criando um vínculo muito intenso, a ponto de gerar muita amizade e, às vezes, claro, alguns confrontos. Há alguns meses, entretanto, graças ao ritmo da vida, ao tempo curto e, por que não assumir?, a falta de vontade mesmo, eu me desliguei do curso. E aí, ontem, reunindo dois amigos do grupo num papinho regado a sucos, caipirinha e carne seca, minha amiga perguntou se eu não sentia falta do trabalho. Sem pensar, eu respondi que não, mas, sabe?, fiquei pensando nessa resposta hoje. E cheguei à seguinte conclusão: eu não guardo saudade do curso em si, mas sinto uma falta tremenda dos amigos. A amizade e o carinho permaneceram, sem dúvida, mas, é diferente quando a gente se encontra regularmente, e conversa, sabe como foi aquela semana, volta pra casa juntos, jogando prosa pela janela. A gente chorou muito juntos, e riu, fofocou, pondero

Nós, mulheres

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Pois é, eu tenho o hábito de comentar as conversas com as amigas, eu sei. É que alguns contatos são tão ricos que realmente me fazem pensar um tantinho mais. Dessa vez foi durante um encontro de trabalho. Numa mesa de café da manhã com 4 mulheres, eu ouvia duas delas comentarem a história de amigas e conhecidas que ganharam carro, apartamento, roupas e jóias de seus namorados, noivos e maridos. Uma querídissima ao meu lado desabafou "puxa, nunca ganhei presente de homem algum!" e eu não pude deixar de dizer: minha flor, essas mulheres têm uma característica muito específica que nós não temos. A conversa continuou: "não! elas são legais" (como quem diz: não são vadias!), e eu "sim, elas são legais, sim, mas algumas coisas só aparecem na relação homem-mulher e isso não é bom nem mal, só diferente daquilo que somos nós". Ela disse: "elas são gueixas!", e paramos por aí, outras pessoas se aproximaram, beijinhos para cá e para lá, enfim. E fiquei eu a

Liberdade e solidão

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Uma amiga, outro dia, escreveu sobre a liberdade e eu fiquei matutando sobre o assunto. Ô assuntinho delicado, que serve, isso sim, pra deixar a gente meio triste, com vontade de não ser tão livre assim. Liberdade não tem relação alguma com essa foto linda ao lado. Liberdade é troço sofrido, adquirido com esforço e solidão, caro à beça. Liberdade só vira coisa boa quando pode ser compartilhada com alguém que sabe exatamente aquilo que enfrentamos para conquistá-la. Mas, sinceramente? Eu fico me perguntando por que é que a gente tem tanta vontade assim de ser livre. Não seria uma fantasia achar que liberdade e felicidade andam juntas? Não andam, não! Aliás, felicidade não anda de braços dados com nada, a não ser com o instante em que ela acontece. Felicidade não é estado de espírito, não é uma tábua onde a gente se deita e desfila mar a fora, sorrindo para o mundo. Felicidade perene só permanece na esperança, pois sem ela, esperança, ninguém é feliz ou tem a perspectiva de ser. Já repar

Intensivão infantil

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Eram 8 e meia da manhã quando eu senti um beijo na bochecha e ouvi uma voz de mel dizer: bom dia, tia Cácia (assim mesmo, sem o "A" pra ficar mais fácil). Era a Sofia, uma menina meiga de doer e inteligente como quem já sabe que vida é essa. Nove anos de pura leitura e música, metade peixe, metade balança, olhos claros e pensamento falante. Uma fatia de pão depois, eis que surge o bebê da casa no seu beabá de alegria. Um ano, já dono da terra, criado para ser feliz. Depois do Pedro, chegaram a Ana Lúcia de 2, o Gustavo de 3, a Carina de 4, o Manuel de 6. Pois é, seis crianças na mesma casa. Já seria festão só por causa delas. Por isso, logo, logo, quando a música chegou, aquela reunião virou quase um tsunami. Senta um pouquinho para eu arrumar seu cabelo, não precisa, não, tia, eu ainda vou correr mais. Quem é que segura? Teve festa também no domingo, dessa vez com a Julinha de 4, o Alan de 8, Tati de 7, Mariana de 6, a Gabriela de 4, Rafaela de 2. Mais 6 pedaços de gente,

Alimento de águia

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Tem coisa que eu não entendo nessa vida. E achei graça quando ouvi hoje duas senhoras muito simples dizendo "a gente nunca sabe nada". A gente não entende e nunca sabe certas coisas mesmo! Desde muito menina sempre tive uma sensibilidade exacerbada, coisa de incomodar mesmo. Não sei se chamo de intuição, de lembrança de outros tempos ou de lembrança genética. O fato é que eu tinha algumas informações e não sabia (e nem sei ainda) de onde elas vinham. Isso trouxe muita solidão e medo para aquela guria magrinha, de cabelo comprido. Trouxe mais ainda na adolescência, imagine, como se não bastasse todos os hormônios explodindo, ainda tinha essa história. Mas, acho que pior mesmo é quando se é adulto e precisa lidar com essa sensação com maturidade e "equilíbrio". Aff, não há nada de tranquilo em sentimentos de pavor evaporando! A única saída é administrá-los, a pergunta é "como?". Não, não dá, não é possível. Mas, um caminho, descoberto outro dia, é deixar-se

O pequeno grande

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Reverter uma situação e transformá-la requer apenas um gesto, iniciativa e compaixão. Um belíssimo exemplo de como fazer a diferença: http://www.youtube.com/watch?v=ngRYXj6Wiuw

Sopa, cobertor e água fresca.

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Pois bem, eu estive ausente por alguns dias, era trabalho demais, e tão exaustivo que resolvi pegar um resfriado só para dar uma pausa. Durante esse período, comecei alguns textos e estão todos aqui, salvos, feito rascunho. Qualquer hora, virarão post, é só o tempo de retomar aqueles sentimentos. Hoje, me deu vontade de falar sobre cuidar e ser cuidado. A gente vive uma era de frenesi angustiante, high speed total, chat, tsunami no além que nos afeta aqui. Informação, então, nem se fala, parece que estamos desatualizados o tempo inteiro, nunca clicamos o suficiente, nem ouvimos, nem assistimos a tudo. O telefone toca e mal nos perguntam como estamos, que voz é essa, precisa de alguma coisa, quer eu ligue depois? Do outro lado, o que tem é só a necessidade do outro, uma urgência do trabalho ou da família, um recado rápido; raramente uma vontade de só papear. Faz falta, não faz? Era tão bom conversar, jogar conversa fora mesmo (de fora não tinha nada, ficava tudo bem guardado, quentinho