O lugar do passado



Não me lembro bem se foi na Forbes ou na Exame que li uma matéria falando sobre "ano sabático". A matéria contava casos de pessoas, de diversas idades que decidiram mudar a vida e, por não saber direito o que fazer, decidiram sair por aí pra ver no que ia dar.

Pelo que me recordo, todas as histórias tiveram como trampolim a vida profissional, o que faz sentido, já que estamos falando de revistas voltadas a empresários. Mas fiquei eu pensando que muita gente acaba tirando um ano sabático por questões pessoais, mesmo sem ter isso bem definido, sem que isso seja um objetivo, apenas desliga o botão daquilo que fazia antes e vai fazer sei lá o que.

Me lembrei que eu própria tirei um período sabático após uma forte decisão na minha vida pessoal. Não foi um ano, foram três, com respingos no quarto e último ano. Eu iniciei, objetivamente, o ano de 2005 com a intenção de espairecer, fazer algo completamente diferente na vida, entrar num ambiente novo, me "distrair" enquanto esperava meu olhar e meu coração encontrarem um novo caminho, ou o "meu" caminho, talvez esquecido por tantas passagens complicadas.

O fato é que foi exatamente isso o que aconteceu. Fiz novos roteiros, conheci muita gente boa (sempre tive sorte com amigos), ri muito, aprendi horrores. Me larguei em alguns sentimentos, deixei fluir para conhecer o que é que eu queria e não queria para o meu futuro próximo. Funcionou! Foi maravilhoso, apesar de algumas dores. Mas não era ali que eu queria estar a vida toda. Era só por aquele tempo. E o tempo passou e eu reencontrei minha verdadeira vocação, chamado, missão, seja lá o nome que cada um dá para isso.

Hoje, olhando para trás, percebo o quão importante foi aquele período pra mim. Foi uma fase de reorganização de coisas que, talvez, nunca tivessem sido organizadas na minha vida antes. Coloquei mente e coração no lugar, no meu lugar, não em qualquer lugar ou no lugar de alguém ou algo. No meu lugar.

E, aí, o resultado foi e tem sido belíssimo. Sou feliz, completa, cheia de esperanças e perspectivas. Todos os dias eu acordo e agradeço por mais um dia viva. Agradeço a saúde perfeita. Agradeço as famílias, a ascendente e a descendente que estou construindo com meu marido e minha pequena Mariana, que vai nascer em alguns meses.

Depois disso, é lutar porque a vida é isso: luta. Todos os dias uma luta. Todos os dias uma vitória sobre diversos desafios enfrentados. Todos os dias um pouco de medo para lembrar que sou falível e é preciso cuidar. Todos os dias a sensação de "não sei direito o que é a vida, mas sei que posso lidar com ela e fazê-la maravilhosa". Todos os dias o amor, a gratidão e a certeza de que o passado está lá atrás por um único motivo: não servia para o meu presente e nem para o meu futuro.


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