Mesmo que o tempo e a distância digam não
Eu frequentei, durante bons anos, um grupo de estudo com meia dúzia de pessoas. O trabalho era bem intimista, uma vez por semana (toda semana) e acabamos criando um vínculo muito intenso, a ponto de gerar muita amizade e, às vezes, claro, alguns confrontos.
Há alguns meses, entretanto, graças ao ritmo da vida, ao tempo curto e, por que não assumir?, a falta de vontade mesmo, eu me desliguei do curso. E aí, ontem, reunindo dois amigos do grupo num papinho regado a sucos, caipirinha e carne seca, minha amiga perguntou se eu não sentia falta do trabalho. Sem pensar, eu respondi que não, mas, sabe?, fiquei pensando nessa resposta hoje. E cheguei à seguinte conclusão: eu não guardo saudade do curso em si, mas sinto uma falta tremenda dos amigos.
A amizade e o carinho permaneceram, sem dúvida, mas, é diferente quando a gente se encontra regularmente, e conversa, sabe como foi aquela semana, volta pra casa juntos, jogando prosa pela janela. A gente chorou muito juntos, e riu, fofocou, ponderou e, sobretudo, se alimentou do jeito um do outro. Cada um de nós tem uma veia muito específica, fácil de desenhar, mas, também, somos bem parecidos no coração. Arrisco a dizer que, sim, temos uma bondade inerente, uma vontade gigantesca de ser feliz e de fazer feliz quem está conosco e também quem vive ao redor. É uma delícia admitir essa qualidade sem receio algum de parecer imodesta ou piegas.
Tudo isso pra dizer o quanto a amizade pra valer é rica, tem gosto de coisa honesta, justa, certa. Eu me esforço, me policio para não perder de vista essas pessoas tão caras e trato de cuidar para não me fechar para outras tantas amizades que estão por aí, no trabalho, na vizinhança, nas plagas distantes e outras nem tanto.
Um outro amigo, ainda hoje, se despedia da gente que é budista e se reúne na minha casa toda quarta-feira, pois ficará um ano nos EUA, estudando. Outra pessoa que me acostumei a ver toda semana, a conhecer pelo tom de voz, a enxergar a emoção nos olhos. Essa é também dessas amizades que conservam seu valor, mas que perdem o convívio por conta dos caminhos de cada um. Não gosto de despedidas, nem de distâncias. Gosto de ter as pessoas por aqui, facinhas de encontrar (mesmo que a gente se enrole no tempo e mal consiga ajeitar a agenda para matar a saudade). Até aceito a quilometragem da saudade (não tem outro jeito, não é?), mas, de verdade, queria é que estivesse todo mundo no mesmo banquete, reunido como na festa de Babette .
Já que citei nosso querido Milton Nascimento no título do blog, aqui vai mais um pouco da sua delicadeza:
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai pra nunca mais...
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir... são só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é, também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
(Encontros e despedidas)
Há alguns meses, entretanto, graças ao ritmo da vida, ao tempo curto e, por que não assumir?, a falta de vontade mesmo, eu me desliguei do curso. E aí, ontem, reunindo dois amigos do grupo num papinho regado a sucos, caipirinha e carne seca, minha amiga perguntou se eu não sentia falta do trabalho. Sem pensar, eu respondi que não, mas, sabe?, fiquei pensando nessa resposta hoje. E cheguei à seguinte conclusão: eu não guardo saudade do curso em si, mas sinto uma falta tremenda dos amigos.
A amizade e o carinho permaneceram, sem dúvida, mas, é diferente quando a gente se encontra regularmente, e conversa, sabe como foi aquela semana, volta pra casa juntos, jogando prosa pela janela. A gente chorou muito juntos, e riu, fofocou, ponderou e, sobretudo, se alimentou do jeito um do outro. Cada um de nós tem uma veia muito específica, fácil de desenhar, mas, também, somos bem parecidos no coração. Arrisco a dizer que, sim, temos uma bondade inerente, uma vontade gigantesca de ser feliz e de fazer feliz quem está conosco e também quem vive ao redor. É uma delícia admitir essa qualidade sem receio algum de parecer imodesta ou piegas.
Tudo isso pra dizer o quanto a amizade pra valer é rica, tem gosto de coisa honesta, justa, certa. Eu me esforço, me policio para não perder de vista essas pessoas tão caras e trato de cuidar para não me fechar para outras tantas amizades que estão por aí, no trabalho, na vizinhança, nas plagas distantes e outras nem tanto.
Um outro amigo, ainda hoje, se despedia da gente que é budista e se reúne na minha casa toda quarta-feira, pois ficará um ano nos EUA, estudando. Outra pessoa que me acostumei a ver toda semana, a conhecer pelo tom de voz, a enxergar a emoção nos olhos. Essa é também dessas amizades que conservam seu valor, mas que perdem o convívio por conta dos caminhos de cada um. Não gosto de despedidas, nem de distâncias. Gosto de ter as pessoas por aqui, facinhas de encontrar (mesmo que a gente se enrole no tempo e mal consiga ajeitar a agenda para matar a saudade). Até aceito a quilometragem da saudade (não tem outro jeito, não é?), mas, de verdade, queria é que estivesse todo mundo no mesmo banquete, reunido como na festa de Babette .
Já que citei nosso querido Milton Nascimento no título do blog, aqui vai mais um pouco da sua delicadeza:
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega prá ficar
Tem gente que vai pra nunca mais...
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir... são só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é, também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...
(Encontros e despedidas)
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