Noite que vira dia
A pauta do dia foi perda. Parece que todo mundo combinou o assunto: na hora do almoço, à tarde e depois à noite. Ô assuntinho desconfortável, eu não gosto. E não foi só da perda da morte que falamos exclusivamente, foi de todo tipo: filhos que se vão para morar com o pai, casamentos terminados, emprego, amizades "destruídas". Aquilo que antes parecia eterno, de repente bum!, acaba. A sensação que fica é de total falta de chão, um desassossego na alma, parece que nada mais tem jeito. É o fim de um ciclo, de uma fase, de uma história.
O que me intrigou nessas prosas todas foi ninguém reparar nas perdas claramente positivas: não se perde só coisas boas, deixamos pra lá também as coisas ruins e muitas vezes nem é por opção consciente, é porque a vida evolui mesmo, os níveis ficam diferentes, os propósitos idem e, aí, é inevitável a ruptura.
Sem falar também que na perda triste há um ganho homérico quando se entende o que é preciso: perder um emprego significa, muitas vezes, ter que se sacudir para conseguir algo melhor, talvez aquela amizade não fosse lá tão verdadeira assim, o filho terá um enorme experiência vivendo com o outro pai, o casamento já tinha acabado mesmo faz um tempão (o que existia era só acomodação), e a pessoa querida que morreu concluiu o ciclo.
O fato é que toda perda significa um recomeçar. Talvez, a grande dor seja a do movimento novo que precisa ser feito e não do luto. Afinal, chegar a um fim nos faz perguntar: vou repetir eternamente o que não me faz feliz ou fazer diferente para viver diferente?
Qual é a sua escolha?
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