Amor é pão


"Ela queria ser amada. Só pra ter ânimo de fazer todas as outras coisas: comer, cantar, sorrir, trabalhar, visitar a mãe, comprar sapatos, tomar café com leite, fazer supermercado (...)". Esse trechinho é de um blog chamado "Caras como eu", de Gabito Nunes. Eu achei fofo, bem a minha cara, por isso copiei. Engraçado como tem coisa que a gente lê e jura que foi a gente que escreveu, de tão igualzinho que é ao coração da gente.

Mas, essa graça do amor, esse ânimo que o amor devolve, o viço da cor da cerejeira só acontece no amor dividido. Amor platônico ou solitário, ou aquele amor de manhã vazia, gera uma dor que não vale a pena. Não vale mesmo. Que me perdoem os mais poetas, que acreditam que qualquer amor interessa: romântica convicta demais para ser taxada de insensível, estou mais do que habilitada para dizer que não, tem amor que não vale a pena. Para esses casos, a melhor dica é: sentiu sinal de fumaça encardida? Run, Forest, run!!!

Só tem um porém nessa história: também não dá pra escolher amor como quem vai à feira, olhando a carinha do tomate que vai durar mais tempo na geladeira. Amor, amor dos bons mesmo, precisa acontecer. Não dá pra fabricar a química, nem fingir um gesto de carinho ou beijar na boca por tabela. A pele só arrepia se for roçada pelo desejo, no sorriso feliz pelo encontro, pelo calor no peito. Amor, só se for de verdade! Inspirador, daqueles que dão ânimo para ir ao supermercado.

Sendo assim, o coração caminha em paz e fica livre para cuidar dos inevitáveis percalços da vida. Mas, como caminha forte e acompanhado, cuida seguro, sem pressa, nem desespero.

"A minha vida toda
eu andei procurando (tuas mãos).
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem."

(Pablo Neruda)

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