O coração de Hannah


Hannah Jones tem 13 anos. Sua história andou pela mídia há bem pouco tempo, sensibilizou alguns, horrorizou outros, mas ninguém que soube da vida dela ficou impune: Hannah prefere morrer a continuar sofrendo.

A menina, que nasceu na cidade de Marden - Inglaterra, teve leucemia aos 4 anos. Passou por 12 cirurgias e incontáveis sessões de quimioterapia. A leucemia cedeu, mas os tratamentos abriram um buraco no coração de Hanna, que funciona mal desde então e pode parar a qualquer momento. Se a menina recebesse um coração novo, correria o risco de desenvolver leucemia novamente, como conseqüência dos remédios usados para evitar a rejeição ao órgão transplantado. Em pouco anos, precisaria de um segundo transplante. Foi, então, que Hanna reinvidicou o direito de não ter o coração transplantado, pois prefere morrer em paz com a família.

A partir dessa decisão, muitas teorias, conceitos e belos textos foram escritos. "Hannah está sem esperança", "deprimida", "não acredita na vida", "está com um 'buraco' no coração". O hospital que cuida de Hannah entrou na justiça para garantir a continuidade do tratamento, mas desistiu do processo após ouvir de uma assistente social que a menina está bastante segura de sua decisão.

Baseada apenas no que li, sinceramente acho que essa menina conseguiu dar uma prova de amor à vida. Em uma de suas cartas, Nitiren Daishonin (o Buda dos Últimos Dias da Lei) diz: "é melhor viver pouco com dignidade do que acabar em desgraça aos 120 anos".
Acredito que Hannah, além de um bravo ato de coragem, fez uma escolha por qualidade de vida e por essa dignidade da qual fala Nitiren. Para quem é fisicamente saudável, é muito fácil dizer "não desista, viver vale a pena acima de tudo". Não estamos discutindo um suicídio, e, sim, de deixar a natureza fazer o seu trabalho, sem a intervenção humana.

Sou a favor dos avanços da medicina, cla-ro, mas penso muito sobre a onipotência que a ciência pretende se dar. Fazendo um trocadilho com as palavras de Chico, em sua Cálice, "talvez o mundo não seja pequeno, nem seja a vida um fato consumado", mas todos não têm o direito de "inventar o seu próprio pecado e morrer do meu próprio veneno"?

Desejo a Hannah toda a felicidade que ainda virá em sua vida, queria eu ter a chance de conviver com ela um tiquinho só. Com certeza, tão pequena ainda, ela já sabe que "a paz no coração é que é o paraíso dos homens" (Platão).

Viva la vida.

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