Sopros sutis
Anda pela Av. Paulista um morador de rua que me intriga. Ele deve ter entre 26 e 28 anos, é magro, alto, bonito, cara de quem estudou, conheceu um mundo muito diferente do que vive agora. Tem os cabelos na altura do queixo, em fio reto, finos, levemente ondulados por conta da falta de cuidado. Ele prende a parte da frente dos cabelos puxando para trás, numa espécie de rabo-de-cavalo. O rapaz empurra um carrinho de supermercado, carregando coisas que pega aqui e ali. Tem um cachorro que o acompanha preso a uma coleira feita de pano, parece uma camisa bem velhinha. Cachorro é bicho fofo mesmo: esse não late, nem rosna pra ninguém. Pelo contrário, mesmo nas vezes em que o vi solto, andava sempre perto do dono, dócil, dócil. Eu fiquei olhando o moço, sofrendo pelo desperdício da vida dele. Ele certamente acha que nasceu só para aquilo mesmo, que é sua única opção, que não há que se ter forças para mais nada, tudo tão difícil e complicado que é melhor ou mais fácil deixar pra lá. Ou talvez ...