Os critérios do amor
Para variar, ontem eu ouvi uma conversa entre duas senhorinhas com, mais ou menos, 70 anos cada. Uma coisa fofa, ambas com namorados conquistados depois da viuvez, coisa de 3, 4 anos atrás.
O que me chamou a atenção foi o discurso de que só agora amam de verdade, são soltas, generosas e recebem amor e generosidade de volta. Diziam elas que as obrigações da vida de casada (imaginem um casamento na geração delas) acabavam com a alegria e a liberdade que elas gostariam de ter tido. Uma delas disse, inclusive, que seu maior sonho era almoçar fora, nem que fosse numa lanchonete, e que o ex-marido nunca a havia levado!
Agora, turistas de plantão, passeiam por aí com os amigos e respectivos namorados, vão a Natal, Porto Alegre, bailes, moram junto com doçura e paixão. Descobriram a felicidade no amor, tiveram critério na escolha pois não tinham mais a obrigatoriedade social. Na época delas, já se ficava pra titia aos 22 anos.
O mundo girou, os casamentos acontecem por motivos que não a cobrança familiar, mas nem por isso se guarda a garantia de eternidade. O fato é que, com o tempo, a gente aprimora nossos critérios e conhece melhor o que quer e, principalmente, o que não quer. Por conta disso, é comum que o segundo casamento/relacionamento/whatever seja mais parecido com nossos desejos profundos, aqueles que costumávamos chamar de sonho, bobagem, devaneio.
O bom de escutar essa conversa alheia (rs) foi perceber que realizar o amor independe inclusive da idade, do estilo de vida, do passado. Tenho fé de que todas as pessoas que se abrem para a vida tem suas respostas em formato de gente, de encontro, vivacidade.
Em particular, nós, mulheres, costumamos "desenhar" o homem "perfeito" quando começa a se entender como gente, mas a história de que "homem é tudo igual" faz com que a gente esconda os suspiros queridos numa caixinha noturna, chamada fantasia. A parte boa de conhecer esse homem "mais tarde", no meu caso somente há alguns poucos anos, é que se sabe que nada que não seja exatamente felicidade basta.
Isso não quer dizer, claro, uma vida sem uma rusga sequer, mas até nisso a gente precisa combinar. Tem discussão que vale a pena, acrescenta, melhora. Mas, tem outras tão absurdas que nem vale a pena pensar em ter com alguém . Existe inteligência no critério do coração na conquista do amor, basta a gente prestar atenção àquilo que somos, sem agredir aquilo que o povo chama de "idealização". Se olhar bem, reconhecer a idealização é o primeiro passo para identificar os olhos daquele/a que nos completa e enche de vida, de cor. E, claro, a gente precisa completar de volta, porque, sem troca, não há critério que resista.
"Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo de estima por si mesma,
E parecia-lhe que entrava enfim
Numa existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu encanto diferente
Cada passo conduzia a um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações."
(Carlinhos Brown e Marisa Monte)
ps: quadro de Gustav Klimt
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bjs!