Amar a dois
"O amor durável é o que tem sempre as forças dos dois seres em equilíbrio", escreveu Balzac. A frase inteira, uma referência às mulheres que amam demais e são tiranizadas por isso, termina assim, com essa deliciosa verdade.
A gente cresce com o mito de que, num relacionamento, um dos dois sempre ama mais. E torce para amar muito e ser amado mais ainda. O que acontece, então, é uma gangorra sofrida e desperdiçada de entrega e retraimento, ora de um, ora de outro.
Não sei da onde tiramos que amar é sofrer. Quem leu Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa, sabe do que eu estou falando. Como foi sofrido e eterno o amor de Ricardito pela sua Odília! E ela, coitada, ora se deixando amar por ele, ora amargurada por outro, num vai-e-vem desonesto com o coração solitário, morreu sem nunca ter sido feliz de fato.
Woody Allen, em Vicky Cristina, traz outra reflexão: é possível um amor ser intenso sem ser maldito? Tranquilidade no amor é sinônimo de fadiga? Pois é: por medo de um e de outro, Ricarditos, Marcellas e Odílias vão levando... sem chegar nunca a lugar algum.
Eu pensei sobre isso especialmente hoje, enquanto voltava pra casa, o vento do passeio de moto cantando 3 anos de combinação, dessas que faz possível o amor durável de Balzac.
Acho que parte da conta das forças equilibradas é não contar migalhas, nem subtrair do outro em julgamento, nem se preocupar em esconder sentimento pra garantir o jogo do 0 a 0. Além do muito que a gente aprende, tem também o riso e a conversa que garantem a intimidade. Ninguém se entrega quando tudo é só dor: alegria compartilhada traz força aos momentos de tristeza.
O "amor que não se mede", do Nando Reis, é amor inteiro, não é angustiante porque intenso, nem morno porque tranquilo. Amor que é amor acalma a alma, mas desperta os sentidos.
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"Meu namorado
Minha morada é onde for morar você
Vejo meu bem com seus olhos
E é com meus olhos
Que o meu bem me vê."
(Chico Buarque)
Comentários
:-)
Bjos!!!