Fogueirinha
Essa vida é mesmo engraçada. Cheia de contradições e diferenças, o jeito é mesmo relaxar de vez em quando para não padecer de tristeza, revolta ou tédio.
Estive hoje no SPFW, aquele marzão de discrepâncias com o mundo cotidiano e até mesmo com a vida da maioria das pessoas que circulam por lá. No meu terceiro ano de trabalho pelas salas e panelinhas do evento, confesso que testemunho algumas melhoras e mais profissionalismo, mas sempre saio de lá com a sensação de que "hã? o que, quando, como?".
Ainda bem que tem as assessorias que nos alimentam de normalidade, a maioria das meninas são bacanas, simples, recebem super-bem. Aí, a gente entra aqui e ali, atravessa o backstage com um baita segurança na porta pronto pra barrar "qualquer um". Vem alguém e diz, cheio de si, "é imprensa" e o armário de 1,90m te deixa passar. Desgosto desse passaporte, linguagem de pequeno poder que não combina comigo nem com meu jeito de dizer "obrigada". A maioria não agradece, sai empurrando com o nariz de quem, de repente, cresceu 50 cm. Enfim.
O interessante é que a maioria das pessoas que fomenta essa postura pega dois ônibus pra chegar a bienal, anda por aqui com o cartão de crédito, reclama da petulância dos demais, etc e tal. São outros jornalistas, fotógrafos, maquiadores (com raras exceções), cabeleireiros, e até os porteiros!
Gente, se vocês vissem as meninas que desfilam... 99% são e continuarão sendo desconhecidas, são todas iguais, a mesma palidez, o corpo altérrimo e desnutrido, a boca muda. Nenhuma delas fala, nem sorri, como lembrou minha companheira Lívia.
Os simpáticos, por incrível que pareça, são os donos de grife e os profissionais "de verdade" (com o perdão da palavra), como os que representam as grandes marcas, como a Natura, patrocinadora do babado. Esses pensam como empresários, sabem conversar e conhecem o poder da gentileza: nunca se sabe o dia de amanhã.
Eu sorri para a turma do "não pode sair, senão não entra de novo" (e a gente sempre entrava porque alguém nos levava de volta). Sorri e achei triste porque eles formam o grupo que não entra em lugar algum, são destituídos do direito de ir e vir e se esbaldam quando podem privar alguém também.
O desfile da Fabia Bercsek começaria às 6 da tarde, mas saí antes. Amanhã tem show da Roberta Sá no lounge da Natura, convite feito, mas, sorry, too much pra essa que vos fala. A proposta é boa, mas aquele mundinho parece o universo paralelo dos meus sonhos, com todo respeito.
Adoro um rímel, uma coisinha básica na boca, calça jeans e sandália. Adoro não precisar fingir, nem me fantasiar, nem me ferir. Sou educada, continuarei sendo, lá ou onde quer que eu esteja. A educação não me diminui, nem rompe status algum de qualquer coisa, não preciso ser grosseira ou arrogante para conquistar respeito. As pessoas são iguais, isso não é balela, não, senhor. São singulares, mas são todas iguais.
A coisa boa é ver o talento dos nossos profissionais: criatividade e rapidez, batom nas pálpebras com os dedos para deformar, sofisticação e qualidade. Mas, isso é assunto para o portal... logo mais, acompanhem ;-)
Um beijo!
PS: Mulher ao Espelho, de Picasso.
Comentários
gente conversa sobre o rodablog...
Bjão e take care...