Hello, little girl


Hoje é o dia das crianças. Pela primeira vez nessa vida vi um sentimento genérico abraçar todo mundo. Foi uma nostalgia por todos os cantos por onde andei. Até no Twitter: o povo trocou a foto por uma da infância e passou horas contando as lembranças boas. Que coisa, né? Esqueceram a santa em detrimento da saudade.

Claro que essa nuvem nostálgica me pôs a pensar. Lembrei daquela história que diz que precisamos de testemunhas que acompanhem nosso caminho, que nos certifiquem da verdade de nossas recordações e nos ajudem a validá-las. Dizem, também, que as melhores testemunhas são nossos irmãos e, depois, o amor que encontramos.

As perguntas que me fiz foram: quanto mudei nesses anos todos, que alegrias senti? Que alegrias causei? E por que? Como faz pra repetir, pra garantir, eternizar?

Muita gente diz que o homem muda pelo amor ou pela dor. Eu discordo: o amor nos torna mais doces enquanto ele vive em nós. É fácil ser "bonzinho" enquanto se está feliz, quero ver alguém desiludido ser gentil ou compreensivo. E quanto à dor, bom, essa é bem egoísta. Quem sofre, só enxerga o próprio umbigo. Na melhor das hipóteses, quando a dor passa, a gente fica um pouco mais solidário, entende melhor quando o outro chora, mas é só. Se a dor for esquecida, então... tudo volta ao que era antes.

Na minha modestíssima opinião, a única fonte de transformação efetiva e profunda é a consciência. Por isso, eu acho que tanto faz a fase que a gente vive: a ficha pode cair sempre que houver o desejo consciente de enxergar, processar, compreender, mergulhar, e, sim, mudar para ser feliz.

São 5 as fases que todo mundo passa depois de um sofrimento: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Das 5, a que mais me impressiona é a barganha. A gente sempre pensa que “talvez se eu agir desse ou daquele jeito, seja possível reverter a situação”. O famoso "jeitinho". É difícil mesmo dar-se a oportunidade de sair do lugar, procurar a realização agindo diferente, mas é preciso tentar, tentar sem parar até conseguir. Achar que pode obter resultados diferentes agindo da mesma forma, como já dizia Eisntein, é a maior tolice do ser humano.

Com o fim da infância, e a medida que os anos passam, a gente vai percebendo que a vida se torna menos tolerante com os nossos erros e nos dá cada vez menos tempo para corrigi-los. Quanto mais a gente insiste em bater a cabeça, mais difícil fica disfarçar. Bom. Bom mesmo. Caso contrário, ficaríamos eternamente mulambando por aí.

Mas, voltando ao dia 12, foi boa tanta troca de lembranças, e a conclusão a que cheguei foi que essa é a única fase verdadeiramente inocente da vida (clichezão, mas é verdade). O problema é que eu achava que nunca passaria ;)

Da minha parte, o impressionante é que eu nunca havia sentido saudades da minha infância antes. Essa foi a primeira vez. E foram muitas. Amei, obrigada.

Um beijo, boa semana.

Comentários

G. disse…
funny porque tive uma infancia otima... mas sempre soube que seria mais feliz adulta...acho que tive pressa por isso... talvez tenha perdido algo, mas fazer o que? nao ter medo de envelhecer foi o meu "brinde"...
Cristiano Almeida de Souza disse…
Olá Acácia, venho lhe parabenizar pelo texto: "Antídoto contra monotonia - Resgate memórias e dê espaço às mudanças".
Após Lê-lo, meio que sem querer...zapeando na internet, senti como que uma obrigação em parabenizá-la.
Fui transportado pela magia da leitura, consegui enxergar as recomendações de Reiner Rilke "as memorias de sua infãncias são como tesouros que ninguém pode lhe tirar..." e esse volver a infãncia, é algo que sempre trabalho em meus grupos operativos. estou enviando um motivador em anexo - O espelho, que sempre emociona os participantes.
Ao ler a seguinte frase: "E quanto à dor, bom, essa é bem egoísta. Quem sofre só enxerga o próprio umbigo." foi como se, destes palavras aos pensamentos que eu tinha ha muito tempo... como o sofrimento é egoista...
Parabéns pelo texto. Ganhou um novo fã, rs.
Grande Abraço.

“Ainda que você esteja sozinho em seu barco, sempre conforta ver as luzes dos outros balançando por perto.” (Irvin Yalom)

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