Femininas


Recentemente vivi duas ótimas experiências com amigas que me fizeram chorar de gratidão: que surpresa a vida dá quando a gente se atira, e quanto a gente recebe quando é capaz de franqueza desarmada, quando a gente tem a humildade de pedir.

Comentei há um tempo que, quando conheci os patins e a bicicleta, esqueci as bonecas e as cozinhas em miniatura, as panelinhas, os sofazinhos, aquelas brincadeiras de reproduzir a vida adulta, pura lavagem cerebral para manter a mulherada encostada ao fogão. Corria com aqueles patins numa liberdade deliciosa, revezando com a bike e, tempão depois, com as próprias pernas. Gosto de correr, do vento, de avião, da sensação de ir!

E a-d-o-r-o amigas, sair com amigas, conversar com elas, sempre gostei. Minhas noitadas para dançar sempre foram mais divertidas quando estávamos só em mulheres. Que delícia. Que delícia! Tenho esse espírito meio solto mesmo, mas que ora se repreende e acha que tem que ser diferente. Mas, isso é outra e longa história.

Andei meio perdida ultimamente, repensando minhas posturas e tal, quando fui presenteada com o resgate dessa minha quase desesperadora vontade de viver tudo o que existe de verdadeiro e forte. Intensidade!

Encontrei clareza às vésperas de ganhar mais um ano e entendi: morro de medo de tanta coisa que vou criando armadilhas, boicotes e afins, para desmantelar qualquer coisa que se pareça com o que, já na infância, decidi não viver. E, por incrível que pareça, revendo todas as passagens, e rindo do meu amigo que acha que vivo o caminho do meio, eu digo: nem a infância, nem as experiências, quero viver o que sou de verdade! Individualidade não quer dizer nada além do que viver com transparência e é isso o que me deixa segura e forte. Portanto: longe de amélia e ofélia, longe de cinderela e branca-de-neve, sou loba com revezes de borboleta, tenho olhos castanhos de escorpiniana, unhas vermelhas de cortesã, cílios que adoro, batom claro de quem só marca com o coração apaixonado.

Gosto do silêncio, mas quero diversão compartilhada (no fogão também) e minhas panturilhas sequinhas de tanto correr, ver o abdome firme de rir e andar de mãos dadas por puro amor. Quero deitar em paz, com a única agonia boa que existe nessa vida: a de ter o corpo quente e querido de quem amo ao meu lado. TV! Quero ver TV sem pensar, assistir Marcelo Adnet e sorrir, trocar de sofá, bocejar não de tédio, mas de descanso.

Quero novos e conhecidos lugares, olhar diferente, aprender, obedecer, me orientar, refazer. Saber o que é melhor pra mim e buscar minha saúde. Pular, continuar correndo. Sou feita de montanhas, não de planíceis, e não tenho trilhas, espero não tê-las, pelo menos não as óbvias. Isso faz de mim o que meu primo sensivelmente percebeu e juntou ao "parabéns": viva, eu sou viva.

"- Eu não acredito nisso! - exclamou Alice. - (...) a gente não pode acreditar em coisas impossíveis.
- Parece que você não tem praticado muito - disse a rainha. - Quando eu tinha a sua idade, fazia isso pelo menos meia hora por dia. Às vezes chegava a acreditar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã."

(Lewis Carroll)

Comentários

Ademar Oliveira de Lima disse…
Voce gosta de dançar! Então é com voce que esu estou falando!!!
Veja pelas minhas palavras como era um baile no meu endereço de Causos!!
Abraços Ademar!!!

http://doutormaronbado.blogspot.com/

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