Nuvens de melancolia

Há dias em que tudo conspira para nos levar a uma viagem. Normalmente, encontrar quem há muito não vemos, rever caminhos antes cotidianos, uma música, um cheiro, um movimento do passado nos induzem a remexer em baldes de água gelada. Dias assim costumam nos encher de melancolia, aquele sentimento de vaga tristeza que favorece a meditação.

Pois bem, o meu dia começou com o encontro, por acaso, com uma pessoa que trabalhou comigo há anos e isso fez alguma coisa ficar pelo meio no meu coração. Foi um tal de "lembra disso, lembra daquilo, fulano está assim, sicrano faz tempo que não vejo". Carinhosa como sempre, a Beth se despediu anotando seus números e e-mail, "não esqueça de me ligar, heim?", e se foi, me deixando com aquela sensação de sei lá o quê.

Para completar, por um desses desatinos inexplicáveis que Freud pode explicar, me confundi nos caminhos e acabei andando por ruas que me levaram a um tempo nem tão longe assim, mas que parece tão distante da minha vida que eu mal me lembro dele. Eu fui olhando de um lado ao outro, reconhecendo algumas casas, admirando a reforma de outras, me surpreendendo com a inexistência de muitas.

É engraçada a sensação de amortecimento. Parece que um tanto foi esquecido, mas, é claro que não foi. Ainda está lá, entristecendo um pouco por vezes, fazendo sorrir em alguma hora, enfim, enriquecendo a vida de memória, nos fazendo perceber que a vida anda, que o tempo recupera. Entretanto, o que realmente cura é olhar para dentro, conhecer essa pessoa com a qual se convive 24 horas por dia, a única no mundo que sabe exatamente suas motivações, as causas, os amores, as esperanças, o medo. A confiança em si é a única força que permanece, que sustenta e alimenta em cada segundo dessa vida.

Tanta coisa passa, tanta gente vem e vai, e o que era sonho se transforma, o real se estabelece e o caminho continua, perenemente, como a única garantia de se alcançar a plenitude da conquista. Afinal, como já nos disse Aldous Huxley, "experiência não é o que nos acontece; mas o que fazemos com o que nos aconteceu ".

São Paulo tem garoa nesse final de tarde, a temperatura caiu, e o vento balança melancólico também. Tem dia em que tudo conspira mesmo. Ainda bem que passa e o dia seguinte chega com outras nuvens, outros ares. Outra alegria.

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