A cor que a gente escolhe


Uma amiga comentou ontem, enquanto pedíamos uma pizza na quarta-feira de cinzas, que ela não comeria carne. Sem estranhar a decisão (eu mesma como pouca carne), ela se adiantou: "é a Quaresma...". Achei uma coisa tão diferente aos meus ouvidos que decidi pesquisar um pouco.

Segunda a Wikipedia, "a quarema ocorre quarenta dias antes da Páscoa e seu posicionamento varia a cada ano, dependendo da data da Páscoa. A data pode variar do começo de fevereiro até à segunda semana demarço. A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte".

Eu não sei quanto aos cristãos, mas, da minha parte, esse é o tipo de reflexão que me ocorre diariamente, acho que já virou um compromisso, um dever embutido, parte, uma veia que não separo da maneira como vejo a vida.

Pouco antes, durante nossa reunião de Budismo de todas as quartas, falávamos sobre "transformação", a mudança que desejamos e realizamos a partir da observação e ação responsável. Eu disse algo que li e que todo mundo sabe, mas tem dificuldade de aceitar: "nada na vida é definitivo". Inconformada, uma amiga soltou: "mas, e aquilo que a gente quer que seja definitivo?", eita perguntinha que não quer calar. De pronto, eu respondi: "cultivemos". Ela adorou a palavra.

A quarta acabou, foi um dia rico, nada teve de cinza, foi verde, cheio de esperança. Mas, a noite virou, veio a madrugada arranhando feito unha, até eu acordar às 4 horas e ficar fritando até levantar, às 6 e 40. A quinta-feira, sim, começou "de cinzas". Manhã difícil, dia comprido, choveu e fez sol, eu me distraí muitas vezes, perdi o foco por horas, até me lembrar do "nada definitivo" e do "cultivemos". É uma vantagem disciplinar a mente para o coração respirar, reencontrando seu caminho sempre antes de se perder.

Muita gente deve se perguntar o porquê de uma pessoa escolher uma religião diferente daquela que nasceu sob. Aqui é uma hora boa para dizer: para a gente se lembrar a que veio ao mundo. E ser feliz, temendo menos e compreendendo mais, como disse Marie Curie. Para a gente lembrar. Deixar de sobreviver e viver.

A quinta-feira de cinzas está acabando. O que vai ficar dela é a certeza de que o centro da minha vida não vagou. E nem vagará, pois está arraigado e todo dia - todo dia - eu o cultivo.

Um raio
Fulgura
No espaço
Esparso,
De luz;
E trêmulo
E puro
Se aviva,
S’esquiva
Rutila,
Seduz!

Vem a aurora
Pressurosa,
Cor de rosa,
Que se cora
De carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Tem desmaios,
Já por fim.

O sol desponta
Lá no horizonte,
Doirando a fonte,
E o prado e o monte
E o céu e o mar;
E um manto belo
De vivas cores
Adorna as flores,
Que entre verdores
Se vê brilhar.

(Gonçalves Dias)

Comentários

Anônimo disse…
tomara criatura q nada seja definitivo mesmo... bjs
Anônimo disse…
me chama pra essa reunião!!!
bjsssssssss
Anônimo disse…
oie... eu li....rssss

bjsss

carla

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