As linhas da vida


Viver uma vida sem arrependimentos não é humano. É da natureza de quem respira, sente e tem memória olhar para trás e perceber que tem, sim, alguma coisa, várias coisas, pequenas e gigantescas coisas que poderia, ou que não deveria, ter feito.

Por mais que se saiba racionalmente que nada acontece por acaso (ou à toa), é impreciso dizer em qual resultado essa lembrança pode desaguar. Acredito numa linha tênue que separa a amargura do arrependimento da boa lição aprendida.

O ressentido lembrar aperta o coração, traz melancolia, resignação, um gosto de derrota. O arrependimento que vira experiência do bem é trampolim para o esforço em não repetir ou, pelo avesso, dedicar-se em observar o momento certo para, sim, fazer o que deveria ter feito ou dito. Na balança das duas coisas, uma palavrinha faceira que adora um bom teste: sabedoria.

Tenho reparado que não apenas eu me queixo da falta de tempo (há anos entendi o quanto essa moeda tem sido demasiadamente cara). De tanto pensar a respeito (não, não me convence a teoria de que os planetas estão em leve desajuste e etc), hoje, enfim, cheguei perto de uma razoável explicação: passei (e passamos, pois num grau qualquer somos todos parecidos) grande parte da vida não fazendo o que deveria, na hora devida, e a vida, um dia, assim do jeito dela,
resolve dar prazos cada vez menores para que todas as coisas e lições necessárias sejam realizadas e aprendidas.

Me parece que entra, aí, a importância de ultrapassar a linha que mencionei lá em cima: para dar conta do recado da vida, é preciso sair do arrependimento ressentido e partir para a boa lição, guardando a lembrança do feito ou não feito apenas como um fato impossível de se transformar em outra coisa senão aprendizado.

Voltar no tempo ainda não é possível, só fazemos isso no coração, quando voltamos por amor, saudade ou tristeza. Fora isso, viajar ao passado para "consertar" histórias nunca funcionou. O possível, entretanto, é começar agorinha mesmo a perceber o que não foi bom e consertar daqui pra frente.

O passado passou. O presente também está passando a cada segundo. Vamos deixar pra quando os dias melhores? Que memórias queremos ter no futuro? Novos arrependimentos ou sorrisos de quem alivia o coração pelo que venceu, construiu, aprendeu, amou? Essa escolha, assim como todas as outras, não são de quem convive conosco, ou do chefe, do prefeito ou presidente. São nossas.

Tenho feito grandes escolhas ultimamente (e pequenas também). Todas com seu devido preço, devido valor e devido benefício. Na balança de todos os pesos, o benefício precisa compensar pra vida valer a pena. E, sim, tem valido. E, sim, é preciso continuar, cansando às vezes, mas sem nunca desistir, para chegar.


http://www.youtube.com/watch?v=iczaDcixBj4

Grande beijo :)

Comentários

Augusto Branco disse…
É sempre tão bom ler o que você escreve, anjinho!
- Sempre mostro você pra todo mundo!rs
Faltam mais pessoas como você... Te encontrar por aqui foi uma das melhores coisas que fiz em minha vida.
Um beijão pra ti, minha princesinha!

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