Por onde andas


Faz tempo que eu ando com vontade de escrever sobre as conclusões a que chegamos, na maioria das vezes baseadas apenas nas referências que guardamos sobre o apego de nossas curtas experiências.

Concluímos amor e desamor, cuidado e desatenção, honestidade e más intenções, gestos e silêncio. Concluímos o tempo inteiro apenas com nosso coração interessado ou com a falta de coração típica dos momentos de ódio. Vamos de uma ponta a outra da simpatia ou da aversão no mesmo pensar, basta navegar ora pela amizade, ora pelo ressentimento sem o menor controle sobre qualquer tendência. Nosso coração parece ter duas facetas: uma cheia de humanismo, morrendo de vontade de acreditar, e outra dura, manchada de desgosto e crítica severa.

Já me deixei vencer pela angústia desse veneno inúmeras vezes e, não só o outro perdeu, mas, sobretudo, eu perdi: perdi alegria, perdi viço, perdi desejo, perdi amor. Presto muita atenção hoje, cuido muito pra entender se o que sinto é verdade ou fruto de uma predisposição à vitimização, aquela mania chata de considerar o mundo cruel e as pessoas idem.

"Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde. Faz bem pensar mais uma vez, embora discorde". Essa frase é um provérbio chinês, se não me engano, e cabe a cada instante, cada vez que um pensamento quiser arranhar a paz que precisamos tanto manter.

A vida é uma eterna tentativa de equilíbrio, de felicidade, a gente sabe disso. Se a gente se deixar levar pelo que há de pior em tudo, há motivo algum para viver? Acordar, sentir frio ou calor, alimentar-se, namorar, seja o que mais? Não, né? Jamais seremos felizes 100% do tempo. Problemas surgirão sempre, enquanto vivermos, essa é a mola que nos mantém ativos, ocupados com a realidade, atentos ao mundo. Mas esses mesmos problemas terão sentido se forem assumidos com a vontade de vencê-los, e a vida terá mais valor se olharmos com menos acidez e purgatório para todas as coisas.

Poliana e Amélie Poulain não foram felizes porque fingiram ver tudo colorido ou com falso otimismo. Foram felizes porque enxergavam a vida bonita, bonita como ela é mesmo, mesmo sabendo que esses são "tempos difíceis para os sonhadores". E Amélie entendeu, no final das contas e no final do filme, que sonhar só é bom dormindo. A gente constrói, de verdade, é acordado, exercitando olhar a vida com mais frescor e mais confiança. Paulo Freire disse que "é fundamental diminuirmos a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática". Exercício puro. Tô nessa ;)

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