A piora da cura: a jornada da ética brasileira


Existem alguns ditos populares que são muito inteligentes e facilmente visíveis na prática. Quando alguém está doente e tem uma piora repentina se diz que é a "piora da cura". Depois desse pico da doença, realmente se verifica que o paciente melhora e fica "bom". O contrário também se diz: quando um paciente internado em estado muito ruim melhora de repente, a preocupação aumenta... "é a melhora da morte".

Assim vejo a atual situação do Brasil: estamos, a cada dia que passa, caindo no poço mais e mais profundo da sujeira política, mas creio que esse período servirá para nos curar, ou, pelo menos, nos trazer a reflexão necessária para o início da "melhora" política.

Entretanto, para que tenhamos uma verdadeira transformação devemos mergulhar na autoavaliação e observar nosso próprio comportamento. Será que somos tão éticos assim? Será que ao comprar uma carteirinha de estudante falsa, só para pagar meia-entrada no cinema, não nos faz corruptos também? "Fazer um gato" para conseguir um ponto a mais da TV a cabo em casa é "legal"? O que dizer de quem para em vaga de idoso ou deficiente "só por um minutinho"?

A velha característica brasileira e cotidiana do "jeitinho", quando eleita pelo povo, se transforma em política desmoralizante.

Não, esse não é o primeiro governo a desrespeitar, envergonhar e humilhar os brasileiros, mas é o que tem nos dado mais oportunidades e motivos para ir às ruas e dizer aquilo que não queremos mais.

Sim, esse governo nos representou, sim, uma vez que foi eleito legitimamente pela maioria dos brasileiros, mas certamente não nos representa mais. Devemos, dessa forma, mostrar a todos os políticos, como aconteceu com as vaias aos representantes do PSDB durante a maior manifestação da história do Brasil na Av. Paulista no domingo, 13 de março, que nossa reprovação não é só para com o PT e, sim, para com todos aqueles que não cumprem seus mandatos conforme a lei.

Não precisa construir nave espacial, nem transformar todos os cidadãos em milionários. O povo quer "apenas" dignidade. Dignidade na saúde, no transporte, na educação, na segurança. Dignidade e respeito. Quer que seus impostos valham a pena ser pagos. Que sua luta diária seja por uma família mais feliz e, consequentemente, por uma sociedade mais saudável.

Nunca será perfeito, não há país de primeiro mundo que seja. Mas não é de perfeição que estamos falando, é de justiça. Se houver corrupção, e sempre haverá, que seja detectada e punida e que seja motivo de vergonha, não de "pizza".

O povo brasileiro é um povo alegre por natureza. Fico imaginando como seria a nossa alegria se vivêssemos num Brasil onde todos pudessem ter, de fato, condições, não mínimas de sobrevivência, mas estruturais para construir a vida que desejassem, com oportunidades e crescimento.

É possível que tenhamos que vivenciar um luto. Creio que estamos chegando a ele. É o pico da doença se apresentando. Mas também acredito que logo virá a melhora, a cura, e a sociedade civil deve se preparar, ética e moralmente, para o novo Brasil, pois de outra forma a cura não será sustentável.

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