O divino em nós


Outro dia, vi no Facebook de uma amiga que retornava de uma viagem: "voltando, que Deus nos proteja". E, hoje, partindo em férias, no meio da estrada, pensei: "que seja tranquila e segura nossa viagem e que voltemos em paz". Minha amiga, claramente católica, guardava no coração o mesmo desejo que eu, budista tarja-preta: paz, segurança, proteção.

Daí a eu fazer uma viagem interna foi um pulo: fui ao passado distante, a outro nem tanto, ao dia de ontem e ao amanhã. Pra mim, segurança e proteção sempre foram palavras que estiveram ligadas a manutenção do status quo. Ou seja, nada de mudanças! Por isso tentei me segurar mais do que pude, me agarrei com unhas e dentes à algumas situações, sofri só em pensar nas prováveis perdas.

Fui uma aos 20, outra aos 30. Aprendi a mudar com muita dor, mas sobrevivi para entender que a mudança é o tom da vida. Hoje mudo e quero continuar mudando. Mudando o pensar, o agir, o sentir. Mudar é expandir, crescer, enxergar de outro jeito! Agora tenho medo de quem não muda, ou não quer mudar. Não mudar é apodrecer, virar lodo. Morrer.

Acredito que uma essência em mim permaneça, e é bom que ela não mude: sou eu na origem. Disso concluo que mudar é, na verdade, descascar, tirar de mim as capas de medo, preconceito e desconfiança que vesti para... sobreviver?

E pensando mais um pouco, entendi que a gente só se apega muito "ao que tem" apenas quando duvida do que é. Faz sentido, então, eu gostar de mudar somente há pouco tempo: foi há muito pouco tempo que comecei a confiar no que sou.

Voltando à minha amiga e aos nossos desejos de proteção, a lição que tiro daqui é que, por mais que eu acredite convictamente que sou, sim, a única responsável pela minha vida, tem uma hora que a gente se entrega mais do que ao divino que há em nós, mas ao universo que desconhecemos. Nessa entrega, nesse gesto de confiança no que ainda não compreendemos, tem, também, muito da confiança em nós mesmos. E e aí eu fecho meu círculo: confiança é a palavra que semeia felicidade, união, gratidão. E eu só consigo confiar fora de mim se confio dentro. Porque na vida, na vida não existe nada que não comece nem termine comigo. Mas, o mais bonito é que, apesar disso, só posso ser completa com o outro, nunca sozinha ;-)

Comentários

Ingrid disse…
achei esse post maravilhosamente verdadeiro (e bem escrito, claro)!
não tenho auto-confiança suficiente pra gostar tanto de mudar. dói pra mudar, mas vale a pena. ficamos melhores :)

bjs Acácia.
Ao passar pela net encontrei seu blog, estive a ver e ler alguma postagens
é um bom blog, daqueles que gostamos de visitar, e ficar mais um pouco.
Eu também tenho um blog, Peregrino E servo, se desejar fazer uma visita
Ficarei radiante,mas se desejar seguir, saiba que sempre retribuo seguido
também o seu blog. Deixo os meus cumprimentos e saudações.
Sou António Batalha.

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