1 + 1 = 3
O homem não é um ser isolado, todo mundo percebe isso. Desde os primórdios, a humanidade se juntou em grupos, se casou, teve filhos e a vida continuou em bandos, tanto para criar quanto para destruir.
Nenhuma descoberta foi um ato solitário: antes da luz elétrica acontecer, muita gente deixou rastros de trabalho para Thomas Edison: Tales de Mileto, filósofo grego, esfregou um âmbar num pedaço de pele de carneiro e viu eletricidade; Otto von Guericke estudou o atrito e Benjamin Franklin inventou o pára-raios. Isso prova que Thomas Edison foi fruto da soma, mesmo que ele tenha descoberto a lâmpada aparentemente sozinho.
Até a guerra existe porque é praticada por pessoas com o mesmo ideal. Jantares e encontros, reuniões, família: tudo acontece por causa do sentimento de comunidade. Portanto, vai na contramão da humanidade quem se isola, quem guarda a disfarçada arrogância de que "não preciso de ninguém", "ninguém paga as minhas contas", "melhor sozinho do que o estresse de ter alguém se metendo na minha vida".
Pessoas com imensa dificuldade de relacionar-se alimentam, continuamente, o medo, já tão grande, de sofrer, isso é muito claro para a maioria de nós. Mas essa solidão revela, também, um tanto de preguiça em trabalhar para melhorar a vida, muito de prepotência quando acredita que o outro é quem tem que mudar e adequar-se a ele.
Tem gente que disfarça a solidão tendo alguns amigos, saindo de vez em quando, interagindo aqui e acolá. Ainda assim, essa pessoa preserva seu isolamento na medida em que evita profundidade, intimidade, algum confronto, alguma possibilidade de perda. No raso, tudo é mais confortável para quem levanta a bandeira do individualismo, mas não há força na solidão, nem alegria.
Outro dia eu ouvi de uma conhecida que "no final do dia, é você com você, é só o que importa". Embora eu concorde com a preservação da individualidade (diferente do individualismo) e embora eu saiba que muito do que sentimos é peculiar e único, e que somos nós que escolhemos cada traço do nosso caminho, eu precisei discordar.
Somos frutos de referências pessoais, sem dúvida, mas muito, muito mesmo, de referências familiares e sociais. Sem apoio, conforto, incentivo e atrito com quem amamos jamais poderemos enxergar coisa alguma, sequer evoluir. Ninguém piora quando carrega a intenção do bom convívio. Não é preciso gostar de todo mundo ou incluir qualquer pessoa, mas é fundamental não temer o relacionamento. É preciso deixar entrar antes de excluir pelo julgamento da possível dor.
Arthur Schopenhauer disse "a solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais". Sorte??? E vai compartilhar a excepcionalidade com quem? E será que é excepcional porque nunca ninguém mostrou que não é tanto assim...? Na solidão é muito fácil acreditar nas coisas que criamos, inclusive nas mentiras.
Acredito que certo, mesmo, estava Aristóteles ao dizer "quem encontra prazer na solidão, ou é fera selvagem ou é Deus". Nietzsche falava que detestava quem lhe roubava a solidão sem em troca lhe oferecer verdadeiramente companhia. Mesmo sendo uma grande fã dele, eu sempre me pergunto: será que ele algum dia pensou em oferecer verdadeiramente companhia ao invés de somente esperar por ela?
É, esse é um dos grandes problemas do solitário: o egoísmo.
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bjs Flávia