Ê lê lê...
Hoje eu participei de uma cena surreal que me tirou do sério. Estava eu aguardando, na portaria de um prédio, ser atendida pelo porteiro para liberar a minha entrada. O rapaz de 20 e poucos anos precisava recadastrar o sujeito à minha frente quando o mesmo resolveu ter um chilique. Agrediu o pobre moço verbalmente, telefonou para o escritório aonde ele teria que ir para reclamar do serviço do prédio, falou alto, se sentiu um galo.
Eu fiquei indignada, completamente. E, com a voz mais calma desse mundo, chamei o dito cujo de ignorante. Com certeza, ele não esperava por isso, ficou vermelho, falou mais alto ainda, repetindo todos os insultos que já dissera. Fiz questão de esperar o responsável pelo escritório que o talzinho iria visitar, que resolveu descer para amainar os ânimos, para contar o absurdo da situação. Foi o que fiz, afinal.
Entretanto, ver o porteiro tremendo pelo constrangimento pelo qual passara me deixou mais furiosa ainda e acabei dando uma de xenófoba (o sujeito era estrangeiro) , perdendo parte da minha razão quando disse a ele que ele estava fora de casa e devia ter mais educação com quem o recebia tão calorosamente no Brasil. Pois é.
Outro dia, saiu uma pesquisa no UOL sobre preconceito. O resultado dizia que a maioria das pessoas respondeu "sim, o mundo é preconceituoso, mas eu não". Imagine todo mundo dizendo isso. De quem estaríamos falando, então?
Para completar, ainda há pouco, eu assistia ao documentário sobre uma pequena cidade de Minas, Noiva do Cordeiro. Ô troço difícil esse de preconceito. Sempre me pergunto se discriminação é desvio de caráter ou ignorância pura. Mas, e quando sou eu quem surge com aquele preconceitozinho básico? Como é que eu me julgo? Difícil, né?
Eu não acredito em gente boazinha. Acredito em pessoas que se observam e que melhoram com exercício diário. Assim sendo, a humanidade tem chance, do jeitinho que Mandela diz: "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."
Vambora, então.
Noiva de Cordeiro:
No fim do século XIX, Maria Senhorinha de Lima, natural do povoado próximo de Roças Novas, se casou com um descendente de franceses, Arthur Pierre. Três meses depois, sentindo-se infeliz, ela abandonou o lar e foi morar com Chico Fernandes, no local onde acabou sendo criada a comunidade.
O seu ato deixou a população escandalizada, já que as mulheres não tinham o direito de abrir mão de um casamento em nome do amor. Começou aí a história de preconceito e isolamento. A Igreja Católica rapidamente se colocou contra o casal, que foi excomungado e difamado. Mesmo assim, o casal seguiu sua vida, teve filhos, que tiveram outros filhos, e a comunidade cresceu.
Por volta dos anos 40, o pastor Anísio Pereira se mudou para o povoado ao se apaixonar por uma jovem local. Ele fundou a Igreja Evangélica Noiva de Cordeiro, que passou a ser o nome do lugar. Os preceitos dessa Igreja eram muito sérios, restritos, as mulheres não podiam usar maquiagem, não podiam fazer controle de natalidade e os dias de jejum obrigatório prejudicavam o trabalho. Por conta do rompimento com a fé católica, o preconceito dos povoados vizinhos crescia ainda mais. As mulheres da comunidade começaram a perceber que a Igreja não trazia tantos benefícios e que, pelo contrário, dificultava a vida e o sustento. Aos poucos, foram se desligando, até colocar um fim na igreja local. A partir daí, passaram a viver uma vida sem religião – mas com muita fé em Deus -, sem dogmas e sem formalidades.
A rotina de Noiva do Cordeiro dificultava a integração com as populações vizinhas. As mulheres eram vistas como prostitutas, perdidas, e esses boatos afetavam muitos relacionamentos da comunidade. Há alguns anos, as mulheres resolveram mudar essa realidade. Para correr atrás de recursos e lutar por seus direitos, fundaram uma associação comunitária. Com isso, conseguiram criar uma escola de informática, a primeira da zona rural de Minas Gerais. Essa conquista fez com que, aos poucos, começassem a ser respeitadas pelas comunidades vizinhas. Uma fábrica de tecidos também foi montada e aumentou a renda local.
Atualmente, o modo de vida dos moradores de Noiva de Cordeiro é admirado e respeitado. Na comunidade, nada é de ninguém, tudo é de todos. Todos trabalham, todos comem o que plantam, e todos usufruem dos benefícios alcançados.
(Fonte: globosat.globo.com/gnt/secoes)
Comentários
Gostei da sua atitude. Ele merecia mesmo uma sacudida. Agora vamos torcer para que ele sempre lembre disso!
Ah! Adorei a estória da cidadezinha....
bj